segunda-feira, 17 de março de 2008

Grupo desvenda mistério dos repelentes de insetos

O repelente de insetos mais usado no mundo só agora revelou seu segredo. Criado pelo exército dos EUA logo depois da 2ª Guerra Mundial e integrando hoje a maioria dos repelentes comerciais, o DEET mascara o odor humano para o inseto. Uma equipe de pesquisadores na Universidade Rockefeller mostrou agora o alvo molecular do princípio ativo usado em marcas conhecidas como Autan, Off e Repelex.

O DEET (abreviatura de N,N-dietil-meta-toluamida ou N,N-dietil-3-metilbenzamida) é eficaz contra uma grande variedade de insetos que se alimentam de sangue humano. Mas ele não é recomendável para uso em crianças pequenas, nem em mulheres grávidas. E os produtos mais eficientes, com grandes concentrações --entre 30% e 50% de DEET--, não devem ser usados em crianças de até 12 anos.

Como lembram os autores do estudo, só a malária afeta 500 milhões de pessoas, causando cerca de 1 milhão de mortes todo ano --e boa parte deles são crianças africanas.

"Repelentes de inseto eficazes são uma arma importante contra insetos vetores de doenças. O resultado prático imediato da nossa pesquisa é que nós agora podemos prosseguir com planos para gerar mais repelentes de insetos eficazes", disse à Folha, por e-mail, a líder do trabalho, a pesquisadora Leslie B. Vosshall.

"Esforços anteriores para aperfeiçoar o DEET não deram certo devido à ausência de conhecimento sobre como ele funciona. Agora que nós sabemos quais receptores de odor dos insetos são os alvos moleculares do DEET, nós podemos fazer a seleção química de milhares de novos compostos para tentar achar um novo repelente que funcione melhor e com mais segurança que o DEET", afirma Vosshall.

Os insetos são atraídos pelas "emanações" do ser humano --tanto o gás carbônico exalado na respiração quanto substâncias voláteis presentes no suor, como o ácido lático. Um repelente à base de DEET mostrou ter efeito contra mosquitos a até 38 cm da pele.

Vosshall e seus colaboradores, Mathias Ditzen e Maurizio Pellegrino, fizeram experimentos com o comportamento de uma espécie de mosquito transmissor da malária, o Anopheles gambiae, e com as moscas-das-frutas drosófilas (Drosophila melanogaster), além de testarem também as respostas eletrofisiológicas de neurônios sensoriais olfatórios nas antenas dos insetos.

Os resultados mostraram que o DEET bloqueia nos dois insetos as respostas desses neurônios a odores normalmente atraentes.

No caso da drosófila, foi constado também que o receptor --a proteína olfatória OR83b-- era essencial para a existência do bloqueio pelo repelente. Moscas mutantes sem OR83b não eram sensibilizadas pelo DEET, apesar de ainda conseguirem chegar até a comida (por ainda terem outros neurônios funcionais). (Ricardo Bonalume Neto – Folha de S. Paulo – 14/3/2008)

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