domingo, 14 de setembro de 2008
Produtores testam plantar feijão junto à cana
A região de Ribeirão Preto serve de campo de testes para um sistema que promete revolucionar o agronegócio brasileiro. O nome é Cati Feijão Doce e consiste no plantio de feijão em meio a canaviais. Atualmente, dois hectares de cana-de-açúcar em Sertãozinho receberam o plantio da leguminosa. Há uma série de experimentos em curso, mas, se for bem sucedido, o exemplo de Sertãozinho vai contrapor as críticas internacionais de que a cana destinada à fabricação de etanol substitui área em que poderiam ser cultivados alimentos. “A meta é transformar o ‘mar’ de canaviais da região Nordeste do estado em fornecedor simultâneo de cana e de alimentos”, diz o engenheiro agrônomo Denizart Bolonhezi, considerado ‘pai’ do projeto.Funcionário da Cati (Coordenadoria de Assistência Técnica Integral) no Pólo Centro-Leste, ambos da Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento e instalados em Ribeirão Preto, ele foi procurado por fornecedor de cana de Sertãozinho, interessado em obter variedades de adubo verde para acrescentar nitrogênio ao solo, tradicionalmente ocupado por canaviais. Bolonhezi introduziu variedades de adubo verde como tremoço e nabo forrageiro, e, com o consentimento do proprietário das terras, estendeu o projeto e plantou a variedade Alvorada de feijão, semelhante ao carioquinha. Esse cultivo atende pelo nome de consorciação, ou seja, quando a mesma área recebe duas culturas. Já é bem conhecido entre os agricultores por integrar, por exemplo, capim e leguminosas. A novidade é plantar no mesmo local cana e outro alimento.No caso dos hectares em testes, há situações que favorecem a integração. A primeira delas é de que os canaviais da propriedade são irrigados, ou seja, recebem água retirada de córrego vizinho. A umidade constante é muito apropriada para o feijão. E fora a água dos irrigantes, há a umidade mantida no solo pela palha da cana. Como a colheita é feita por máquinas, a palha fica sobre o solo, formando uma colcha que, entre outros resultados, ajuda a reter água. Leguminosa amadurece sem atrapalhar a maturação da canaO projeto piloto do Feijão Doce foi empregado em meio a um canavial que está no terceiro ano de vida. Normalmente, a cana permite até cinco cortes, mas vai perdendo produtividade. O feijão foi plantado nos primeiros dez dias de agosto, dentro do sistema plantio direto - que dispensa técnicas de revolvimento do solo - e deverá ser colhido entre o fim de outubro e começo de novembro, ou seja, sem atrapalhar o crescimento da cana. “Enquanto a leguminosa amadurece, acompanhamos os ganhos e possíveis perdas dela na área canavieira”, diz o engenheiro. No caso negativo, poderá haver competição entre cana e feijão pelos nutrientes do solo e mesmo pela luz, matéria-prima imprescindível para ambos. Já em termos positivos, há a possibilidade de a mesma área canavieira ajudar a agricultura em aumentar a oferta de alimentos. Por ano, conforme levantamento do Pólo Centro-Leste, o estado de São Paulo dispõe de 800 mil hectares de cana aptos para a chamada fase de renovação, processo comum da agricultura canavieira quando a planta ‘envelhece’, é retirada e, antes de ocorrer novo plantio, o solo tem de passar por preparos e recebe o plantio de oleagionas e leguminosas. Caso o feijão, que tem ciclo de maturação de 90 dias, for empregado em todos os 800 mil hectares disponíveis, se tudo correr bem significará uma produção adicional de 32 milhões de sacas de 60 quilos do alimento, tomando-se uma média de 40 sacas por hectare. O volume projetado chega a 1,9 bilhão de embalagens de um quilo a ser vendidas em supermercados. Para o produtor que se adequar a esse consórcio, certamente haverá o ganho agregado com a venda do feijão carioquinha, cuja saca era cotada em R$ 200 na semana passada. Mas tem o ganho social, de colaborar com a oferta de alimentos. “Esse talvez será a maior vantagem para o agricultor”, observa Bolonhezi. (Jornal A Cidade e http://eptv.globo.com/)
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