terça-feira, 30 de setembro de 2008

Morte de escritor Machado de Assis completa centenário

A essa altura, passados cem anos de sua morte, parece redundante --mas não é-- dizer que Machado de Assis é o grande divisor de águas da literatura brasileira, segundo Marcos Flamínio Peres, Editor do Mais! da Folha Onlie. A importância do conjunto de sua obra --sobretudo os romances e os contos, embora também tenha feito poesia, teatro e crônica-- só vem aumentando, aqui e lá fora.
Em seu início, foi tributário da escola romântica, em cujo gosto se formou. Romances como "Helena" (1876) ou "Iaiá Garcia" (1878) têm lá seus enredos sentimentais, com protagonistas talhados para o papel de herói.
Mas a ruptura com esse cânone ocorreria com "Memórias Póstumas de Brás Cubas" (1881). Nessa obra de virada, Machado desloca o eixo de força de sua prosa ao tirar o peso da fabulação --os enredos sentimentais-- e acentuar o papel do narrador --no caso, defunto.
Esse procedimento irônico irá dar o tom de todo o romance, ao exibir as fraturas e contradições da sociedade carioca. Esta, de um lado, é moderna na fachada, exibindo modos e costumes antenados com o último grito da burguesia parisiense; de outro, é profundamente arcaica em sua estrutura, ancorada no escravismo e na relação de interesses e favores.
Esse período de sua produção --que se convencionou chamar de "segunda fase"-- atingirá seu ápice com "Dom Casmurro" (1900).
Os recursos formais se depuram, e o leitor passa a acompanhar a ação sob a ótica de Bentinho, o protagonista --incertezas, marcas de classe, opressões e a dúvida insolúvel sobre se Capitu o teria ou não traído são construídas a partir desse ponto de vista bastante instável.
Em seus contos, Machado também se mostrou exímio.
A inversão dos pontos de vista --para criticar as idéias positivistas-- também é a chave para entender "O Alienista" (1881). Nele, o doutor Simão Bacamarte solta os loucos do hospício e, no lugar, trancafia a boa gente da vila de Itaguaí --até, finalmente, trancar apenas a si próprio, para entregar-se "ao estudo e à cura de si mesmo".
Já em "Missa do Galo" (1894), chama a atenção a forte ambientação, que combina, com raro domínio, recato e sensualidade.
Qual a razão de tamanha grandeza em uma literatura até então em nítido processo de amadurecimento? A mesma que se aplica a todo grande escritor: um feliz arrojo na forma, aguda crítica social e psicológica e um profundo questionamento sobre a natureza humana.
(http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u449918.shtml)

Nenhum comentário: